domingo, 15 de maio de 2011

Biografia

Hoje, entrei no quarto pensando estar numa nave voando
Numa nave voando... Quem sabe? Uma outra dimensão
Música de pássaros chamando, escuridão, brisa repentina
Lua atrevida entrando pelas frestas da cortina, da janela
Meu rádio tocando sozinho, minha cama fresca e macia
Desarrumada para sempre. E eu pensando, pensando
Fixamente quem eu era, onde estava, enfim, filosofia
No fim era a poesia que novamente estava chegando
Ela chegava viva, simplesmente viva enquanto eu,
Saia do meu eu, magicamente, por obra e graça do espanto

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ontem


Ontem
Mamãe sentava
No terraço
Para conversar

Cada pedaço de céu
Era uma lembrança
Um jeito bom
De dizer bom dia

Mamãe ia para cozinha
Fazer bombons

E eu pequena
Rodava pela casa
Procurando
Procurando
Onde ela podia estar

Cada porta fechada
Era um desespero

O medo de criança
De nunca mais
Encontrar
Aquela voz tão mansa

Para no final
Lamber os dedos.

sábado, 16 de abril de 2011

Revolução no Pensamento

Eu ando e corro
Como o vento.

Como uma criança
Desacordo
Em movimento

Sonho na luz e no chão.

Eu chovo!
Porque sou
Nuvem
O tempo todo.

E quando não
Eu só escorro
Pelos ares
Até o vão
De toda parte.
Ser plantação
Mesmo que
Só de sonho
E movimento.

E como penso:
Ser gotículas
É apalpar a solidão
E desenhar o arco-íris.

domingo, 27 de março de 2011

Vôo

Ontem ainda éramos crianças
A correr livremente pelas pedras
A rolar preguiçosamente pela grama
A colher flores, a brincar de pássaros.

Ainda éramos crianças ontem
Correndo, rolando, colhendo, brincando
Pelas pedras, pela grama com as flores
Feitos pássaros livres e preguiçosos.

Hoje, não sei mais o que somos
Só sei que não pisamos mais nas pedras
Nem deitamos mais no verde mato
nem catamos flores, muito menos
Pensamos que somos pássaros.

Talvez as pedras ainda corram
Talvez a grama ainda rola
Talvez as flores se colham, e os pássaros
Brincam que são crianças. Talvez ainda

Brincar de Barro

As pedras ficam no lugar
Mas nunca é a mesma pedra
O vento e a chuva já se foram
Enquanto eu chego sempre

Só sobrou-me entre os dedos
As pedras de hoje e o pó
Das pedras de ontem, amassadas
Pelo vento e pela chuva sob o sol.

E sob a lua e igualmente à lua
Choro pedregulhos entre palmas
Tão brancas como ela do céu
Tão frias como ela da terra.

E fico passando de uma a outra
Até petrificar a minha face,
Os olhos não correm mais, só olham
O buraco que cavei em minhas mãos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Mar com a Lua





Luana e Maria
Uma de lua
Outra do mar
Sempre a brincar

Maria e Luana
Duas amigas
Duas meninas
Sempre a cantar

Luana era pura alegria
Maria era pura criança
Uma contava histórias
A outra recitava poesia

Luana da lua tudo sabia
Histórias de lobisomem
Da vitória régia
Do boitatá

A lua era sua companhia
À noite quando ia deitar
Olhava da janela o luar
E saudade da vida sentia

Maria o mar ela queria
Dentro de si, e as ondas
Como se pudessem cantar
Murmúrios da água
E do tempo.

Maria quando ia ao mar
Chorava de ver esse tempo
Partir todo momento
E na beira da praia ficar.

Assim, era Maria e Luana
Duas meninas, duas amigas
Sempre a cantar e a brincar
De histórias e de poesia.

Uma vivia no mundo da lua
A outra suspirava o mar
E as duas bem sabiam um dia
Elas iriam se encontrar.

Até que em uma noite
O mar e a lua se converteram
Em lágrima do tempo
E em chuva de saudade.

domingo, 2 de janeiro de 2011

À Procura do teu rosto

Voz cansada e escura, voz fraca
Chama sempre triste os teus passos
Que vão diante de tempos e mundos
Diluindo fronteiras, sobrepondo espaços

Voz escura e serena, voz triste
Chama sempre cansada o teu nome
Que não se ouve mais nem nos sonhos
Permanecem inteiros, profundamente calados

Voz morta e despedaçada, voz permanente
De todas as possíveis saudades
De todos os impossíveis presentes
Ao chamar-te, faz-se milagre, faz-se ausente
E ao seguir-te, seguir tua face
Perdeu-se eternamente.

Restos

Permita-me
Descascar nesta toalha branca
As frutas que não têm sabor

Permita
Chorar agora o sabor
Das frutas descascadas na toalha branca.

Permita
A toalha branca o sabor das frutas
E o agora do meus choros.

Permita-me agora
Chorar, cascas de frutas
O meu dissabor nesta toalha branca.

Frutas da toalha branca,
Permita-me
Juntar me ás cascas.