segunda-feira, 13 de julho de 2009

Filhos do Cerrado

Não importa
Que tenha nos tirado
Do Parque Estadual
Do Juquery.
Porque nossas
Pegadas já se escreveram
Em suas estradas e trilhos.
Não importa
Que tenham nos arrancado
De nossa casa, tão vasta
E plena como o campo da aviação
Arrancados do chão
Como suas flores,
Porque já somos na alma
seus rios e pássaros
somos filhos do Cerrado
e mesmo longe
o Parque já mora na gente
e aonde iremos
ele irá.

Menina

A Menina corre sorrindo
Atordoada pelas pedras
E pela vida...

A chuva procura a pedra
Que se revela no horizonte
Aflito daqueles olhos alegres

A chuva partiu a pedra
A vida passou aflita
E ela, sem saber de nada

Corre atordoada a menina
Entre os restos de chuva passada
Seus olhos, pedrinhas do chão.

O chão batido marca a aflição
Dos pés que voam presos a terra,
Descalça, a menina passa perdida.

Atrás de um horizonte que ela
Não vê e que tem nas mãos,
A menina procura a chuva

Ela corre até ferir o nada
Quando seus olhos descalçam a vida
Como a chuva a pedra

Seus olhos já foram embora,
Deixaram dois vazios na menina
Que corre ainda sem saber...

A vida passou pela estrada
E ela ficou como sombra das poeiras
Estátua de terra no horizonte invisível.


Adrienne Kátia Savazoni Morelato

Para Mário de Sá Carneiro

Queria ser alguma coisa
De útil, neste mundo
Talvez árvore, talvez nuvem
Quem sabe vento
Ou água escorrendo

Menos essa sombra
Esse vago, essa angústia
Esses minutos de dúvida
Esse olhar de descontentamento

E tudo parece morrer
Na espera, na saudade
De ser simples sereno
Ou vontade, ou querer

Queria ser um risco
Ou desenho na folha
Pela metade
O rasgo é movimento,
É dor inteira e verdade

E tudo parece morrer
Quando se quer a saudade
De ser nuvem, de ser vento
De ser árvore no sereno, e água
Que invade o momento
E a tarde...

sábado, 11 de julho de 2009