sexta-feira, 21 de março de 2014

Écriture


 

As mãos que escrevem
são parte de uma grande forma
que desaparece
por alguns instantes.

As mãos que escrevem
escondem quem as move
mas também o traz
constantemente.

Quando eu escrevo
não, não sou eu que escrevo

são as minhas mãos
guiadas por um louco pensamento
porque não sei se é meu.

Sei que as minhas mãos
movimentam, criam
se libertam do apêndice
que se torna o meu corpo.

Mas elas também são o meu corpo!
e o trazem em um grande jogo
de aparecer e desaparecer.

Grande texto performático
que se realiza no silêncio
escrita de um ser fragmentado
que se realiza em pedaços.

O texto que faz um teatro
a si mesmo.

 

 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Simultaneidade

Enquanto o professor
fala do ser do mundo
da subjetividade, de Deus...

A aluna escreve
a lista de compras
para Deus existir
materialmente no dia a dia

Enquanto ele pensa
sobre todas as coisas
que se pode pensar
que se pensam
que pensam

o corpo come
o corpo tem fome
sede, sono, frio
o pensamento
dentro do corpo
tem fome, sede
sono e frio...

O professor parece
um ser sem corpo
e a aluna
pluraliza a metafísica.