terça-feira, 2 de abril de 2013


Os adeuses foram muitos
mas a vida uma só
e as palavras incompreensíveis
para escrever uma carta
em que tu estejas todo dia

Apenas te digo em sonhos
os lugares onde não te encontrei
e eu lá estavas, desfeita
em poeira, em brisa, em lágrimas
como uma luz que se dissipou
ao fim de toda estrada

Tuas mãos se apagou no nevoeiro
nunca mais eu a pus entre as minhas
nunca mais eu vi o teu rosto
fostes meu suplício e a minha dor
e hoje? O que tu serias?

O pecado do amor morreu entre nós

Milagre no Século XIX

Até que enfim
Deus chorou
quando viu
suas árvores
serem milagres
ao ficarem velhas
e cascudas e enormes
e ainda sim
vivas

Até que enfim
Deus chorou
quando viu
seus animais
correrem livres
pelos campos

Até que enfim
Deus chorou
quando viu
seus rios
transparecer
as pedras, os peixes
as algas
e o fundo com
uma fina areia


Até que enfim
que Deus chorou
quando viu
seus mares
carregar ainda
um pouco de solidão

até que enfim
Deus chorou
quando viu
brotar na terra
a pequena semente
e a terra ainda úmida
e quente e solta e fértil

Até que enfim
que Deus chorou
quando viu
a chuva ser pura
e fecundar a terra
molhar a semente

Até que enfim
que Deus chorou
quando viu
alguém lembrar de si
parar à noite
para se deslumbrar
com as estrelas

Deus chorou
chorou, chorou
chorou, chorou tanto
que de repente
por um momento
o mundo ficou
mais bonito
aos olhos do homem.