sábado, 1 de agosto de 2020

Oração aos rios

Rio Juquery, entre as represas Sete Quedas e Paiva Castro (Sistema ...

Os rios, inteiras passagens de abundância
morrem nesta sociedade do desperdício,
secam sem uma lágrima humana para regá-los,
esturricam de sol e de erosão 
sem um lamento, um canto, um poema.

Os rios são anônimos e invisíveis,
só são lembrados quando se abre a torneira
e nada pinga de seus interiores.

Para o humano, os rios são servos
da sua sede insaciável de matéria
artificial e hipócrita.

Um rio se derrama em esperança para a seca
se derrama em profusão para a noite, 
em espelho para a lua, em horizonte para quem ama,
em sonhos plácidos para quem o comtempla,
um rio é chuva e semente todos os dias.

Os rios cheiram a terra e escondem
em suas profundezas, todas as mágoas
toda a tristeza, e ainda nos ensina
que a união de várias águas pode
transformar nos em grandes.

Gigante é o rio que carrega a todos
carrega o lodo, carrega a matéria morta
carrega as embarcações, o peso que depositamos
em toda a sua força e superfície.

Ele ainda nos ensina
que toda vaidade é afogada
em nosso próprio reflexo.

Mas preferimos matá-lo
por miséria de nossas almas
do que aprender com ele.

Santificado é todo o rito
de sua passagem na paisagem.
Santo todo fio de água que surge
por entre as flores do campo.

O teu nome seja fonte de purificação
para todos aqueles que sentem saudades
e sede do seu  verdadeiro interior. 

Rio que deságua em peixes e mar
seja breve e sereno para aqueles que amam,
seja caudeloso e forte para aqueles que se dissipam
em correntes, seja rio, ritmo e movimento
da divindade para os seres vivos.

Um rio é sempre uma semente,
um cheiro de manhã em névoa
e sonho.









Um comentário: