sábado, 29 de setembro de 2012

Solitária, vagando pelas estradas vazias
eu busco o nada e só vejo o fim

tantos aromas me desfazem, tantos
que não sei onde fiquei, ou se sobrou
algo em que possa me refletir
e me ver como sou, o que eu sou?

uma lembrança em meio a dor
um poema que se esqueceu
um acaso em que se acreditou
um amor que se perdeu

Foram anos que me roubaram
foram dias que nunca passaram
foram veredas que não permaneceram

Poderei dizer algo?
ou sou mesmo assim
uma imagem fixada nas gotas
uma penungem que roçou as pedras
em fragmentos de mim?

Haverá uma oportunidade
de recomeçar o caminho?
qual caminho?
cada pedaço anda por um lado
e a minha face está de costas

domingo, 9 de setembro de 2012

Continuação



O prenúncio do abismo
em meio ao céus serenos
o meu acaso, o meu desespero
torna ocioso aquele tempo
em que a vida era pelo menos triste

Antiga era a passagem das horas
onde nós ficavamos debruçados
na varanda espiando as estrelas
embora todas já morreram
éramos puros e nada viamos

Ficamos naquele tempo imóveis
ainda revivendo o amor perdido
encarnado nas árvores que plantamos
e na pequena casa que construímos
mas o tempo se foi, só ficou as estrelas...

domingo, 19 de agosto de 2012

Além do hoje

Sinceramente todas as dores são meros pássaros afogados sem previsão de pouso, mas todos são tão efêmeros de vidas curtas e doentias. Onde será que voarão na próxima amanhã? Talvez seus minutos serão fixados no espaço traçado pelas suas asas e cada pedaço do tempo uma doce música de adeus... Perdidos, os pássaros recuperam seus céus cada um é um sonho fosco tentando buscar as luzes serenas de um mesmo sol distante e belo mas que nem sempre é generoso com todos Adeus meus poemas adeus minha música serena adeus meu amanhã sou efêmera e vã e de asas pequenas onde o tempo e o espaço me esmagam entre dores fixadas no voo distante e generoso de um pássaro belo e fosco que está em meus sonhos

sábado, 10 de março de 2012

Não haverá mais títulos para se por em poemas
tudo já foi dito, pensado ou escrito
nada que eu criar não foi já criado
nada que eu pensar não foi já pensado
nada que eu sentir não foi já sentido

Rascunhos meus encalços e meço meus ouvidos
não haverá mais poemas, não haverá mais inspiração
toda criação anda morta pelos dias e meses
pelas coisas e objetos, pelo trabalho e pela rotina
pela fadiga e pelas intrigas, anda morta a arte
pelo consumo e pela violência, pela crueldade
de toda realidade, nunca vista antes como agora
crua, fria, áspera, sem nenhuma possibilidade
de transformação, de mutação e de vivência

Pudera eu orar pela salvação dos poetas

Tecer

Costurarei os dias mesurarei as horas

para ver se demora

o não tempo chegar.

 

E tudo ficará suspenso 

e os minutos serenos 

e o sonho reinará.

 

Pudera meus olhos fecharem para sentir

o meu corpo

levitar no anti-momento.

 

Sentir-me como vento perdido no mar.

 

Entre o espaço e o tempo
sigo eu mesma, inconstante
e mutável
plena de incertezas
e medos

Mas soberana em meus erros

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Amamentar

O seio da mãe que amamenta não tem pudor, 
nem maldade 
lança-se como uma estátua plena 
de misericórdia e dor. 

 O seio da mãe que amamenta 
simbolo do fim da castidade, 
porém, nã existe algo 
mais puro mais belo 
e casto do que seio de mãe.

domingo, 22 de janeiro de 2012

pretérito

nas estradas que me chegaram
eu vi o tempo, esse flamigerado
varrendo as sobras de um eu
escuro e odioso pelo espaço
o único que ainda tenta ser o mesmo.

contudo, tanto o tempo
quanto o vento
quanto o eu, quanto a sobras,
famigeradas sobras
se vingaram
transformaram o espaço
em um momento.

cantando, os caminhos
são mais pequenos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Interior

Reiventarei um dia
para que tu recomeçastes
a levantar e a caminhar
de manhã até de noite
para ver as árvores velhas
com suas folhas mortas
mas com seu espírito poderoso
a abraçar os rios e as outras árvores

reiventarei um dia
em que andaremos com o vento
para suspirar os aromas do campo
do alecrim entre ramos
singelas flores amarelas
que se queimam com o sol
enquanto prendemos a tarde
com o pensamento

onde estamos e onde buscaremos
a purificação da dor e da mente?
porque a chuva limpa o chão
onde pisamos, é que encontraremos
os passos fincados nas nuvens
e a paisagem nas palmas das mãos,
viajaremos serenos nas águas
enquanto nos descobriremos inteiros
Nunca mais seremos os mesmos
na passagem fresca do tempo
entre as estrelas e sombras

Em que poderemos acreditar?
Será que no resquício da fé?
ou na tortuosa esperança
que não se contenta com a dor?

Haverá um pouco de dúvida
em toda beleza consumada
em toda lírica de uma flor
em volta de lágrimas e súplicas

Pudera força do amor
nos transformar em sonhos