sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Da Vida

Um vidro de pimenta
foi tudo que sobrou
do meu amor

um vidro de pimenta
malagueta
vermelha, ardida
gostosa se pouca
perigosa se em excesso


um vidro de pimenta
que ele fez
lembro de como ele fez
lembro das mãos dele

cortou cebola
colocou azeite
colocou alho
curtiu um tempo

um vidro de pimenta
e também uma camisa
que eu ia jogar no lixo
junto com as outras roupas
mas não joguei

e no banheiro
no espelho
ficou uma escova de dente
nova que ele ia ainda usar
e que não usou

eu usei

do resto, tudo se foi
nem as fotos guardei
nenhum livro dele
esquecido
nenhum disco velho
perdido

tem um livro só
que ele me deu
um pouco antes
de nosso adeus

eu que não quis
eu que não o quis
mais
embora minha alma
mostrasse a mim mesma
o quanto pertence
a ele.

Como naquele poema
e como na vida
de Castro Alves.

Eu não o quis
não por falta de amor
mas pela vida que assim,
exigiu

a tragédia faz parte
de uma bela história
de amor

e como história
ella sempre terá
começo, meio
e fim

a tragédia maior
é que o sentimento
sobrevive a ella

a pimenta está
em cima da geladeira
ainda
outro dia
coloquei mais azeite
nela.





terça-feira, 30 de setembro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

Ocaso


As aves do fim de tarde

testemunhas inefáveis

do amor e da solidão.

 

Os pássaros assobiavam

a despedida não anunciada.

 

Mãos não encontradas

Traços que perdem seus

 contornos e sua luz.

 

Estrelas de uma noite

onde-se fixou os trilhos

em que corríamos nus

sem nos enxergar nus.

 

um tempo sem tempo

sopro de um sonho

que vinha e roçava

nosso rosto azul.





terça-feira, 9 de setembro de 2014

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Antiga



Um arranjo de flor
uma mesa de madeira
e uma tristeza velha
e uma tarde inteira.

A toalha branca de renda
a panela ariada no fogo,
já é quase noite
tanta gente que não chega.

Olhos vazios no retrato
olhos cheios no relógio
o piso frio úmido
e uma alma bela e seca.





domingo, 24 de agosto de 2014

Prenúncio






Prenuncia a morte
no início do outono,
o amor se entrega
folhas ao destino.

Lá no alto do morro
vê-se a neblina e o rio,
prenuncia a morte
e o amor seu adeus.

No início do outono
vê-se o vale em sopro
e o amor lá longe,
uma despedida santa.

Prenuncia o inefável
as árvores e as plantas,
que restaram secas
desse amor antigo.






























quarta-feira, 30 de julho de 2014

Nosso porta retrato



Entre o antigo e o sopro,
as flores que plantamos
estão vivas e com brotos

Entre a dor e as palavras,
as árvores que plantamos
crescem verdes e altas.

Entre o suspiro e o sonho,
a casa que construimos
está edificada para olhardes

E nos enxergar lá dentro
como éramos coloridos
puros, sem medir o tempo.

E olhar a rede e a área,
nossa colheita no chão
nosso cachorro no sofá.

A colheita para o jantar
os livros em comunhão
a música que anunciava

um soluço da solidão
e uma carícia não dada

em um adeus de canção.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Écriture


 

As mãos que escrevem
são parte de uma grande forma
que desaparece
por alguns instantes.

As mãos que escrevem
escondem quem as move
mas também o traz
constantemente.

Quando eu escrevo
não, não sou eu que escrevo

são as minhas mãos
guiadas por um louco pensamento
porque não sei se é meu.

Sei que as minhas mãos
movimentam, criam
se libertam do apêndice
que se torna o meu corpo.

Mas elas também são o meu corpo!
e o trazem em um grande jogo
de aparecer e desaparecer.

Grande texto performático
que se realiza no silêncio
escrita de um ser fragmentado
que se realiza em pedaços.

O texto que faz um teatro
a si mesmo.

 

 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Simultaneidade

Enquanto o professor
fala do ser do mundo
da subjetividade, de Deus...

A aluna escreve
a lista de compras
para Deus existir
materialmente no dia a dia

Enquanto ele pensa
sobre todas as coisas
que se pode pensar
que se pensam
que pensam

o corpo come
o corpo tem fome
sede, sono, frio
o pensamento
dentro do corpo
tem fome, sede
sono e frio...

O professor parece
um ser sem corpo
e a aluna
pluraliza a metafísica.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Árvore dos Sonhos




                                                      Árvore dos Sonhos


                                                   
Árvore dos Sonhos
teu nome é solidão,
ramos e raizes
espalham pelo chão

Árvore dos sonhos
horizonte sem pudor,
entre céus e campos
cura a antiga dor.

Funda-se a paisagem
sombra, som e cor
com a sua miragem,
real imagem da ilusão.

Árvore dos sonhos
busquei-a de dia,
o vento a ti me guia
com um leve sono.

Desperto e te vejo
aroma da melancolia,
árvore do desejo
encaro a tua colina.

Abraço-te mais perto
árvore da vida,
profunda e deserta,
sonhos são neblinas

Na manhã incerta.
Na hora vivida
evaporam os amores,
vão-se todas as saídas.

Árvore dos sonhos,
cantei-te em êxtase
de muito tempo
e em comunhão.












                             Ipê Amarelo do Parque Estadual do Juqueri em uma manhã nublada

                            

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Maldita Cana!



Cana Maldita! Como pode o governo chamar o Etanol de energia limpa! Milhares de paisagens verdes, mas de um deserto avassalador. Quem viaja pelo estado de São Paulo, pode se perguntar: aonde estarão as matas, o Cerrado, a Mata Atlântica do lugar?Se alguém pedir para experimentar uma fruta do interior, um suco natural a única coisa que terá será o Caldo de Cana e a rapadura, e olha lá, porque essa cana que congela os olhos de um verde monótono não é boa para garapa! A cana de açúcar originária da África não é um mal em si, ao contrário, ela boa de encher a boca de saliva. Chupar cana sem compromisso numa tarde sentada em um banco de madeira embaixo de uma árvore, é uma delícia. Mas como o seu produto açúcar que de bom pode se tornar veneno, o seu monópilo desde os tempos do Brasil colônia só pode trazer: seca, paisagem seca, falta de água, extinção de espécies, extinção de paladares, modos de vida, habitats, uma cultura caipira que se torna do passado junto com o seu Cerrado.
O Cerrado, este bioma considerado feio propositalmente para os interesses das Monsantos da vida, que não foi incluído dentro do patamar de ecossistemas em nossa Constituição, só é a Savana mais rica do mundo em biodiversidade, a mais poderosa em plantas medicinais, em espécies de flores, em animais. É no Cerrado que se concentra o nascimento dos maiores rios brasileiros (que nascem no Brasil) culminando em água para todas as bacias hidrográficas desse país e também é onde está o afloramento e o abastecimento o maior reservatório de água subterrânea da América do Sul: o Aquífero Guarani. Ele é rico em bauxita que produz o aço e também em pedras preciosas. Suas frutas são saborosas e cheirosas e já estão presentes em polpas de suco e sorvetes.
O Cerrado vale bem mais vivo do que morto, mas não é que governo brasileiro parece crer. Ao invés de incentivar pesquisas e o uso do Cerrado para fins econômicos e culturais, deu aval para o povo e para as empresas destrui-lo, colaborando com a visão de que ali só tem mato! A cana, representante maior da nossa monocultura, deixa uma paisagem medonha por onde passa, horizontes e horizontes sem sombras, sem bichos e rios e corrégos prontinhos para se esgotarem junto com suas fontes. Não é incomum as pessoas lembrarem de alguma mina d'água que se existia ali bem aonde está o canavial. Os animais correm no meio dela a procura de abrigo e encontram queimadas, tentam fugir das queimadas e são atropelados nas rodovias e vicinais. Sem falar na morte de toda beleza da paisagem que agora se torna fria, fria, fria.
Tem lugares que de tanta cana que você vê da janela do automovel, sua mente entra em depressão profunda, uma tristeza difícil de matar, porque aquele verde de um mato só deixa a sensação horrível de que não vale apena sair do lugar, todos vão ser iguais.

O Cerrado é o ouro desperdiçado, é sinônimo de interior do Brasil, de música caipira, do Tatu, Tamanduá e Capivara, do doce do Buriti, da Gairova com Frango, do Pequi no Arroz, do Barbatimão para cicatrizar feridas, da Gabiroba no pé, do Marolo cheiroso que se acha no meio da mata, do riacho gostoso de pular com roupa e tudo depois de muito andar. E a conserva de Jurubeba, diz que ella boa para curar mangaça, a carqueja para o estômago, a mangaba nunca provei, e embora não goste da fruta, o pé de Jatobá dá uma sombra! Tão boa de balançar, de subir, de espreguiçar, de dormir em uma rede vendo os tucanos, as maritacas, os sabiás, os bem te vis, e ooutros passáros que gostam de lá. O lobo guará rondou a casa, junto com a jaguatirica, mas ele fugiu comendo a fruta do lobo que tem uma flor tão bonita. A coruja buraqueira segue nossos passos a noite, as estrelas não deixam de acompanhar junto com os vaga-lumes imitações dos luzeiros do céu nos campos da Terra. E a cana deixou um melado azedo na permenência de toda essa natureza. Por isso, sonho que se um dia eu tiver um automóvel, que ele seja movido a água, hidrogênio, energia solar, gás natural, elétrico ou qualquer coisa que não seja alcool e gazolina.

Farmacopédia Popular do Cerrado

http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_agrobio/_publicacao/89_publicacao01082011054912.pdf

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Siblings







We leave of walking Discalced
On the red earth
We cease to to blow flowers
Whites pompons in the field.

We cease to give name
To the trees and sing to them
Talk to them,
Give our infancy
For them to carry us
Up to the bluest sky in the world.

We leave from running
With open arms
Embracing the Wind
seeking leaves
Chlorophyll and paper
Laughing at of happiness

silly thing
That adults want
And seek.
Do not have asked us
A where she was
Least because we never imagine
On it.

Today, already erased
Your footprints
Have already been born other flowers
But no one bloweth
Fall leaves in the bush
And are there intact
Up to they rot,
The wind vanishes
Why has no one
And the trees?
Dries up little by little
Of loneliness. By dying
It are told that
How belong together.

Now
We seek to
And we think
Happiness.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Irmãos


Deixamos de andar descalças
Na terra vermelha,
Deixamos de assoprar as flores
Pompons brancos no campo.

Deixamos de dar nome
Às árvores e cantar para elas,
Conversar com elas,
Dar nossa infância
Para que nos carregassem
Até o céu mais azul do mundo.

Deixamos de correr
Com os braços abertos
Abraçando o vento
Buscando folhas
De clorofila e de papel
Rindo da felicidade

Coisa boba
Que os adultos querem
E procuram.
Não nos perguntaram
A onde ela estava
Até porque nunca pensamos
Nisto.

Hoje, já se apagaram
As nossas pegadas,
Já nasceram outras flores
Mas ninguém as assopra
Cai as folhas no mato
E ficam lá intactas
Até apodrecerem,
O vento se dissipa
Porque não tem ninguém
E as árvores?
Secam-se pouco a pouco
De solidão. Morrendo
É que nos dizem
O quanto nos pertencemos.

Agora,
Procuramos
E pensamos
Na felicidade.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meu canto do exílio





Faço poesia
de uma natureza morta
de uma natureza antiga
que já não se vê mais

O que vejo é a cidade
mas não a sinto,
seu asfalto é frio
seu concreto é morte.


Já não há árvores e flores
os pássaros fugiram
para um lugar sem nome
eles já não conseguiam cantar
como cantavam há muito.

O infinito perdeu sua pureza
e a solidão, seu aroma.

As formas são outras
a beleza uma opção.

Faço poesia para um lugar
que não se esconde,
mas que se perde em um instante.

Milhares de vidas
destruídas em segundos
para o bem do progresso
e do dinheiro.

Ainda sou romântica,
prefiro me aconchegar
em um jequitibá,
do que na estreita
sombra de um prédio.

Prefiro a dor e a solidão
de um ipê no fim da estrada,
do que as multidões vazias
das ruas, onde flutuamos
como fantasmas

Haverá um resquício
de verde entre as pedras
da calçada, com uma flor
do campo a soluçar

baixinho...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Recortei o passado
esmiucei em pedaços
para ver onde eu morri
tantas vezes me perdi
nos vazios do esquecimento
e quando me recomponho
descubro os fragmentos
das dores que eu vivi

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Music of death



I sing love me
hurt one love, suffered
like a distant cloud
never comes into rain

I sing a love so far
that tears me with your road
an endless road
where my footsteps will not

I sing a sad love
so full of pain
of agony, a love
that kills and enslaves

This love playing me
the fifth floor
everyday ...

Cursed love
Which brings me to suicide
and then resurrects me
only to crucify me
a little more in life!

It seems that the word
curse and curse
are together with
word love.
inefable mundo de la noche
vacante en los laberintos del ser
lleno de sombra y de muerte
inmensidad inimaginable
que explota en el horizonte

Canto de morte






Eu canto o amor  em mim
um amor doído, sofrido
como uma nuvem distante
nunca chega em chuva

Eu canto um amor tão longe
que me dilacera com sua estrada
uma estrada infinita
em que meus passos não vão

Eu canto um amor triste
tão cheio de dor
de agonia, um amor
que mata e se escraviza

Esse amor que me joga
do quinto andar
todos os dias...

Maldito amor
que me leva ao suicídio
e depois me ressuscita
só para me crucificar
um pouco mais na vida!

Parece que a palavra
maldição e amaldiçoar
estão juntas com a
palavra amor.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Sementes e folhas

A mãe e a menina catam sementes
sementes de flamboyant
catam sementes e o amanhã

a mãe e a menina vão juntas
plantar flores nos vasos
plantar flores e ternura

a mãe e a menina de tarde
correm atrás das folhas
das folhas das árvores

que caem tristes ao vento
no chão de terra e cimento
a mãe e a menina sabem

como derreter o tempo
como inventar asas
como costurar a dor.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Crianças

o Skate mágico

A menina skatista
de rodas no skate
e asas na vida

Faz um olho
dança em cima
um só corpo

o skate e ella,
o skate na pista
e ela na vida

não há janelas
apenas avenidas
sem esquinas

o skate de asas
as asas no skate
e a menina voa

como se não
existisse o sempre
somente o nada

O nada e o sempre
e a vida inteira


   presente de fadas.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Existe em toda mãe
uma angústia triste
uma dor permanente
que se estende do parto
até seu seio vivo

uma dor cheia de medo
mas também terna e boa
que desata o desespero
para fundar o eterno,
o amor para seu filho.

Chorar não surpreende
sorrir é um verbo simples
o seio é pouso certo
para todos nós viajantes
desse mundo fútil.

O amor de toda mãe
não deixa de ser chiste,
enquanto a sua cruel dor
um cálice vazio
que se despedaça inteiro

O mundo fútil do início
ao começo, e nós filhos
viajantes deste caminho
onde voltar e repousar
no peito da mãe é belo.