terça-feira, 8 de agosto de 2017

Irmãos

Irmãos

Deixamos de andar descalços
Na terra vermelha,
Deixamos de assoprar as flores
Pompons brancos no campo.

Deixamos de dar nome
Às árvores e cantar para elas,
Conversar com elas,
Dar nossa infância
Para que nos carregassem
Até o céu mais azul do mundo.

Deixamos de correr
Com os braços abertos
Abraçando o vento
Buscando folhas
De clorofila e de papel
Rindo da felicidade

Coisa boba
Que os adultos querem
E procuram.
Não nos perguntaram
A onde ela estava
Até porque nunca pensamos
Nisto.

Hoje, já se apagaram
As nossas pegadas,
Já nasceram outras flores
Mas ninguém as assopra
Cai as folhas no mato
E ficam lá intactas
Até apodrecerem,
O vento se dissipa
Porque não tem ninguém
E as árvores?
Secam-se pouco a pouco
De solidão. Morrendo
É que nos dizem
O quanto nos pertencemos.

Agora,
Procuramos
E pensamos
Na felicidade.

Mama


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Verte do peito o sangue na boca
Derruba neste momento
Todas as teorias e lamentações
Somos uma só agora
Transbordadas de poesia
Este alimento é de graça
É puro, ninguém pode roubá-lo
Ninguém pode destruí-lo
ele é só seu, filha
bebe o seu leitinho quente
passa a mão no teu peitinho
que é também teu travesseiro
seu naninha
sua segurança
onde tu tens a paz
onde tu dormes tranqüila
e nada e ninguém
te pertuba
quando cresceres, filha
for mulher e sofrer
a dor de ser mulher
e chorar, podes vir filha
Podes vir no regaço de tua mãe
Podes deitar nestes velhos braços
Cansados e encostar tua cabeça
Em meu peito,
Onde por tantas vezes
Tu te alimentaste e dormiste
Quando criança.
E tudo será pequeno
Perto deste abraço.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A face do infinito


Subvenção de US$ 500 mil dos bispos EUA para implementar a Laudato Si -  Vatican News



O meu rosto não é bonito
Ele tem as marcas do vazio,
Das dores impressas nos anos
Rasgos no silêncio da pele.

O meu rosto não é bonito
Veste nele o desengano,
Um adeus que não escorri,
Em suaves desencantos.

O meu rosto, eu o vejo
Feito de cicatrizes e fins,
E na fronte, uma lágrima
Pedra que fura o espelho.

Ele carrega todas as marcas
do seu pequeno despeito,
corrói meus olhos de dentro
entrega-se nós nas pálpebras

O meu rosto não é bonito
Ele não tem olhos azuis,
Tem o seu último beijo
Que eu não pude sentir.

O meu rosto não é bonito
Ele tem as marcas da fome
Que um dia, no vento, engoli,
Papel das sombras e, do tempo.