Para
os meninos, o dia chegou. Na beira do trilho da beira do rio e no sopé do
morro, o encontro com o topo e a hora de ultrapassá-lo. A medida do tempo pelos
pés descalços. As mãos ainda dobravam o papel e o coloriam. Eram ventos ali,
enfeitando o brinquedo para subirem além do alto. Estas crianças conheciam os
limites que se traduziam em morro, estrada, rio e sombra. Sempre respeitavam a
paisagem como se ela fosse o Mu Gigante. O Mu era um bicho peludo da mata que
carregava até a porta da cozinha, ovos cozidos e coloridos para as crianças
comerem. Tão coloridos como o brinquedo que por elas era construído. O Mu
parecia doce e terrível. Os limites da paisagem também.
O
morro era de longe, o senhor da sombra e da neblina. Ela de manhãzinha, tingia
tudo de branco e descia com fome de suas costas, deixando as pipas das ruas
para trás. Os meninos habitavam o vale e espreitavam com os olhos o tamanho do
gigante, como se pudessem dizer o quanto havia de desejo em suas faces em
feixes de luzes. Somente aquele brinquedo poderia ultrapassá-lo, passar por
cima, ir adiante, voar, subir e ser maior que o morro. Um balão. Um balão de
papel colorido recortado por dedos menores e que agora não queriam nenhuma
proteção. Queriam apenas o céu além dos olhos.
O
balão estava pronto e todos os pequenos o seguravam no limite do limite da
paisagem. Entre o final do trilho e a última árvore, na margem do rio, o morro
crescia. Crescia mais que os próprios campos a perder de vista, enquanto os
meninos diminuíam. No pé do morro uma estrada, o seu rio no pé dos meninos que
só tinham um trilho para calçar. O balão tremia e embora, torto e penso, subia.
Os meninos, de repente, cresciam e flutuavam junto dele. Finalmente, havia algo
que subia para além do morro, vagando com a força dos olhos dos meninos.
O
balão se desmanchando, enquanto as crianças não saiam daquele instante. Elas
permaneciam estáticas ao sopé do morro, no final do trilho à beira d´água. Só
os seus olhos se mexiam, mas suas vidas flutuavam e eram livres junto ao balão
que a cada minuto, os deixava mais e mais para seguir viagem. Ele ia sumindo,
sumindo, mas levava a liberdade de ser. Enquanto as crianças, uma névoa as neblinava
pouco a pouco como um sonho. Dizem que seus pés ainda estão lá, fincados no
chão como as raízes das árvores, porém, os olhos delas foram carregados pelo
balão para o infinito bem longe, onde há poucos morros.
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