sábado, 21 de outubro de 2017

A paz de Deus e do Eu

Deixo a voz das minhas olheiras falarem
Suas peles são como a estrada em que um dia
foi um rio, onde não há nada mais para secar
Nem para seguir.
Uma névoa que borra o meu peito
Uma dor que treme as minhas mãos
E a paz de seus braços que já não tenho
sombra assombra meu coração.
Peço então, a paz da face nua de Deus.
A paz maior, espiritual, calma e branda
aquela que não termina com um beijo
perdido, mas que se planta na planta
E que nos traz a exatidão dos aflitos.
A face de Deus moldada nas árvores,
Suspiros de paz para todos os vencidos
paz pura e santa pelas folhas aos ares.
Peço a paz dos olhos húmus de Deus
Arrancando as dores, como as raízes
Respiradas na crueza das palavras
que alimentam todos os conflitos.
Os humilhados úmidos de suplícios
restauram o ventre fértil da canção,
A pá da paz limpou as pedras e as dores
E o sonho brotou firme daquele chão.
Sujando os dedos de carinho
Os rios de Deus deságuam em pele e pão,
socorrendo a boca dos famintos
com as cores do útero da terra.
A paz germinada em sementes e farelos
Espalhou pelos ventos os flagelos
Dissipou todos os males e angústias
e levou para tu, as areias do amor.
Na face de Deus, Deus me deu o seu adeus
para desenhar a minha última procura,
Enquanto os ventos inteiros e profundos
Carregaram para fora as agonias do mundo.
E que a despedida envolva nossos dias,
Enquanto a paz se faz para a humanidade
No sopro do abraço e do perdão.
E que Deus refaça do húmus, o seu espelho.

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