quinta-feira, 22 de julho de 2010

O corpo da mãe

O corpo da mãe não lhe pertence
Jorra sangue, salta leite
Seu corpo é casa roubada
Onde sua cria dorme
Estrada aberta sem porteiras
Onde as cria caminha infinitamente
A mãe não tem vergonha
Seu corpo é visto por todos
Como uma estátua disforme
Nua ela pare, nua ela alimenta
Seus seios despencam às vistas/
De todos que passam nas ruas
E de todos que andam a sua volta
Seus seios não são mais seios
Grandes, duros e doloridos caem
Direto na boca gulosa de seu filhote
Seus seios são nada mais que tetas
Tetas que amamentam
Tetas que ninam
Tetas que choram leite e sangue
De bicos cascudos, grossos e rachados
Tetas abertas
Em que seu filhote se pendura
Se pendura como broche
A mama da mama
Morde o filhote
Que mia e morde
A mama que mia
Toda mulher
Vira bicho quando gesta
Vira bicho quando pare
Vira bicho quando mãe
Toda mãe
Vira bicho quando amamenta
Seu bichinho
Vira bicho quando precisa
Defender seu bichinho
Toda mãe sabe
Que ser mulher
É ser bicho
Antes de ser gente
Com sua carne
Com seu sangue
Com seu leite
Com seu instinto
Que fareja o macho
Que fareja a cria
A mulher, a mãe
O bicho
Verifica e protege
Seu filhote, sua cria
Seu bichinho
Seus braços
Suas tetas, seu colo
Seu ventre, seu nariz
Alimenta, nina, embala
Protege e educa
O ser humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário